segunda-feira, 17 de junho de 2013

Não me venham com tretas, Saramago é um génio da língua portuguesa

José Saramago é um génio da literatura portuguesa. Goste-se ou não, é o escritor português que mais bem soube captar a essência da nossa língua, das suas origens, a amplitude das suas possibilidades. Saramago dá à língua portuguesa uma dimensão universal pelo aprofundamento e pela exploração máxima das suas características. Consegue transportar toda uma cultura com 9 séculos de história, e pegando nos nossos formalismos, nos nossos provérbios, expressões: explora-as, subverte-as, reinventa-as, e o resultado é uma linguagem riquíssima, requintada e inigualável.

Estou neste momento a ler "As Intermitências da Morte", talvez o 8º ou 9º livro que leio da sua autoria e, não que tivesse algumas dúvidas quanto a isso, mas senti vontade de expor esta minha admiração profunda. Cada frase que sai dos seus livros é uma mostra de genialidade. Um autor que combina o perfeito domínio da língua, com uma inteligência refinadíssima, uma boa dose de sarcasmo e crítica à sociedade, mais propriamente ao homem e à sua existência animalesca, sem filtros de hipocrisia.

É certo que a sua escrita pode ser de difícil leitura, não o nego. Mas como o próprio dizia: "eu confio ao leitor a competência e a sensibilidade para acompanhar o meu discurso". Numa entrevista que encontrei há pouco tempo no youtube, ele dizia que a sua escrita se assemelha de certa forma à música, que, no fundo, é feita de sons e pausas. E o ponto e a vírgula (únicos sinais de pontuação que utiliza nos seus romances) são não sinais de pontuação, mas sinais de pausa: uma pausa breve e uma pausa mais longa.
Os seus livros são peças musicais que o leitor tem de se esforçar e comprometer a acompanhar para entender a melodia. E ela está lá, basta desprender-mo-nos da nossa preguiça e cepticismo.

É por isso que me aborreço imenso quando tratam José Saramago como um impostor, anti-patriota, herege, comunista (com o sentido depreciativo que geralmente é atribuído aos militantes deste partido), isto tudo combinado dá uma mistura explosiva que resulta num canalha da pior espécie.
Saramago foi uma pessoa geradora de controvérsia e polémica, mas, no fundo, era apenas um homem que não aceitava o mundo tal como está como tendo origem divina. Para ele, era impossível acreditar e louvar um Deus que permitisse a crueldade a que assistimos neste mundo. Ele compreende os "criados", o seu comportamento, os seus vícios, as suas falhas - e expõe-as como ninguém - o que não compreende é o "Criador", esse ser todo-poderoso que, a sê-lo, deveria criar um mundo justo e fraterno. 

Pê, espero que este pequeno texto te incentive a estudar com mais vontade este nosso escritor único, que não é por acaso que é o único merecedor de um Prémio Nobel da Literatura, não só de Portugal, mas de todos os países de língua portuguesa.

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