Há dias navegava no blog do Arrumadinho quando deparei com um passatempo interessante proposto por ele em parceria com a Book.it, e que consistia em seleccionar os 3 livros da minha vida. Achei um desafio muito pertinente. Não sou propriamente um leitor compulsivo, nem tenho um repertório assim tão vasto de obras lidas, no entanto, achei por bem fazer uma reflexão sobre os livros que mais me marcaram e, eis o resultado:
O Retrato de Dorian Gray – Oscar Wilde
Este livro, o mais famoso de Oscar Wilde, revela o verdadeiro
génio literário deste autor. Acima de tudo, aprecio a negação do óbvio, do
certo, daquilo a que nos obrigaram a tomar como inquestionável. Os seus personagens
mostram uma visão diferente do mundo, como refere Lord Henry a determinada
altura: “sou capaz de acreditar em tudo, desde que seja perfeitamente
inacreditável”. Esta obra é também uma exultação da beleza na arte,
condição vital à (in)sanidade do autor, ainda que a considere perfeitamente
inútil. A beleza de Dorian Gray é de tal forma exacerbada que nos faz tomá-la
como a mais importante das virtudes, mais sublime que o intelecto, por não
precisar de explicação. O livro é assim, um mar de ensinamentos não ortodoxos,
insubordinados, contestando as verdades inquestionáveis e fomentando o
pensamento liberal, autónomo e artístico.
Ensaio sobre a Cegueira – José Saramago
Sou um fã de Saramago. Esta obra é de uma crueza e
intensidade tão fortes que me fez tremer ao pensar na desumanidade da
humanidade face à catástrofe, neste caso da cegueira mundial idealizada pelo
escritor. O filme (como quase sempre acontece para quem lê primeiro o livro)
está longe da intensidade do livro. Conseguimos perceber nas suas linhas o
desespero, ver a imundície, captar a barbárie e o arrepio de pensar que o Homem
civilizado se pode transformar de tal forma e abandonar todos os princípios e
valores com os quais cresceu e aprendeu a viver e respeitar. Escolhi este livro
de entre os restantes do autor por ser o que mais me emocionou, o que mais me
susteve. É incrível perceber que um livro pode ter o poder de um filme, de uma
pintura, de uma fotografia, no fundo, de todas as formas de arte juntas num
propósito comum de nos fazer “ver” verdadeiramente aquilo que pensamos não ser
possível num conjunto de linhas.
A Sombra do Vento – Carlos Ruiz Zafón
A Sombra do Vento “absorveu-me” sofregamente. Uma escrita inteligente
e complexa (embora seja essa complexidade que me fez querer entrar na história)
e uma história enigmática e desafiante. O autor explora os caminhos fantásticos
que os livros proporcionam, a possibilidade de sonhar com algo mais, de elevar
o ser, de querer ser mais, saber mais, conhecer o mundo e a vida. A personagem
principal, ao afeiçoar-se ao livro oferecido pelo pai, entra de tal forma na
sua história, que a determinada altura confunde as duas realidades (a do livro
e a sua). Zafón revela-nos o extraordinário poder do livro e a forma como ele
pode mudar a nossa vida, transformá-la e fazer parte do nosso próprio carácter.
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