Numa recente discussão com um amigo, não fui capaz de me
expressar da melhor forma em relação à minha admiração pelo filme “De olhos bem
fechados”, o último do realizador Stanley Kubrick. Bem sei que não se compara a
Laranja Mecânica, Nascido para Matar ou ao mítico 2001: Odisseia no Espaço, mas
ainda assim conquistou-me sobretudo por um conjunto de cenas extremamente bem
filmadas, tanto do ponto de vista da fotografia, dos tempos, da música e de
toda a envolvência e intensidade, sobretudo a cena do ritual orgíaco na mansão
em Long Island (mostrada no vídeo em baixo), que revela toda a inteligência, génio e maturidade do realizador.
Apesar do enredo simples, o filme trata de sentimentos
ambíguos e incómodos à sociedade, que talvez a literatura consiga retratar com mais profundidade.
Mas no fundo, o objetivo de Kubrick é claro e bem conseguido, fazer a história navegar entre o
plano do consciente e do sonho, mostrando o conflito freudiano clássico entre os
nossos instintos e os limites impostos pela sociedade. Talvez o único erro de
Kubrick foi ter confiado demais nas estrelas (Tom Cruise e Nicole Kidman), em
vez de investir mais nas subtilezas dos personagens. Ainda assim, nego por
completo o rótulo de “o último erro de Kubrick” em relação ao seu último filme.
Pode não ser genial, mas não deixa de ter a qualidade extraordinária que este
mestre do cinema sempre nos mostrou (e além disso, mete muita gaja boa)
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