segunda-feira, 16 de setembro de 2013

persistir

Espero. Aguardo. Exaspero. E ele não vem, esse tão desejado rasgo que me arranque deste estado de letargia e amargura.
As próprias teclas que vão escrevendo estas linhas afundam-se ressequidamente como valas escavadas por mãos fracas e cansadas.
Neste quase quarto de século que sou gente, nada fiz que me fizesse verdadeiramente ser. Um canudo na mão é tão louvável como um pássaro que faz o seu ninho - uma inevitabilidade.
O que se segue?
Um trabalho que me dê futilidades ilusórias e me faça esquecer por momentos que sou menos miseráveis do que realmente sou?
Não, o ser não se pode resumir a isto. A revolta corrói-me por dentro de pensar que sejamos apenas terra gerada de terra cuja terra voltará para reclamar.
O homem bem vai fazendo o que pode para se desprender das amarras da terra, inventando os seus deuses e bonecos mais ou menos divinos que prometem aquilo que quer ouvir: o éden para os fiéis, todos os tipos de horror para os restantes; sofram agora, vivam graciosamente depois.
Há ainda os que aceitam desde cedo a terra como destino final do ser e se contentam com a herança genética que hão-de deixar.
No fundo, a transcendência é o que nos move; senão a todos, pelo menos aqueles que como eu se questionam sobre a validade da existência.
O desejo de perdurar, de deixar algo que nos eternize.
De persistir na memória dos que ficam por um feito maior que nós próprios.
É essa a maior prenda que os deuses podem oferecer, mas as prendas são poucas e os candidatos demasiados.


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